17/10/2024
Adquirido pelo Governo de SP e Unicamp por R$ 4,8 milhões, um novo radar meteorológico de alta tecnologia, vai funcionar de forma permanente para atender exclusivamente a Região Metropolitana de Campinas (RMC), detectando eventos climáticos em um raio de até 100 km. O equipamento foi instalado essa semana no Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (CEPAGRI), na Universidade Estadual de Campinas. A ação envolveu a Unicamp e a Agência Metropolitana de Campinas (Agemcamp), órgão que reúne os 20 municípios da Região Metropolitana.
De acordo com Bruno Bainy, meteorologista do Cepagri, o radar meteorológico tem a finalidade de diagnosticar eventos climáticos extremos, mas também de fazer previsões de curto prazo. A intenção é acompanhar a evolução das condições meteorológicas em tempo real e fazer projeções de poucos minutos até algumas horas. O equipamento não tem a função de previsão de tempo de longo prazo.
O radar é uma antena de 3 toneladas e meia, instalada sob uma torre de 10 metros de altura. Funciona como uma antena parabólica, que faz varreduras horizontais à 360°, em diferentes elevações, num raio que pode chegar até 100 km. As imagens geradas pela antena serão em alta definição e armazenadas em um banco de dados. Os ajustes na obra e os testes de desempenho serão realizados até o final de novembro, para que o radar possa começar a funcionar em dezembro. Além de aumentar a velocidade das previsões, o radar servirá para auxiliar o poder público na tomada de decisões referente à segurança dos municípios, durante a ocorrência dos eventos climáticos. Também serão emitidos alertas para a população, com maior precisão geográfica, com o objetivo de preservar vidas e propriedades.
Os pesquisadores também estão desenvolvendo um Centro Regional de Meteorologia. Todas as informações adquiridas e resultantes deste projeto de monitoramento do clima, ficarão disponíveis nesse novo Centro, para a utilização das prefeituras e instituições da região. De acordo com a meteorologista Ana Ávila, que trabalha no projeto desde 2017, essa forma de centro regional é a mais indicada. “Já temos centros em Santa Catarina, no Paraná, mas o modelo adotado aqui é bastante inovador, já que reúne a academia – que irá propor ações nas áreas de ensino, pesquisa e extensão – ao lado da Defesa Civil e dos municípios”, diz Ávila.
O equipamento foi importado dos Estados Unidos, e chegou em Campinas no dia 13 de setembro. A sala de gerenciamento terá integração com os sistemas estaduais e federais de monitoramento meteorológico. A iniciativa nasceu durante reuniões da Câmara Temática da Defesa Civil, um dos grupos setoriais do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas. O Conselho é o responsável por aprovar os projetos e os recursos que envolvam desenvolvimento urbano na RMC. “A nossa meta é sempre usar a tecnologia a nosso favor, principalmente quando falamos em desenvolvimento urbano. Desde 2023, temos investido em ferramentas para monitorar ocupações de áreas de risco, situações de desmatamento, e esse radar meteorológico reforça iniciativas para melhorar a fiscalização de uso do solo, prevenindo situações de risco que se tornaram mais frequentes com as mudanças climáticas”, avalia o secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Marcelo Branco.
O radar possui tecnologia de dupla polarização, o que proporciona maior precisão nas estimativas sobre a chuva e permite melhor classificação dos fenômenos climáticos. Ele emitirá alertas em tempo real com estimativas sobre volume e intensidade de chuvas. “Futuramente, este equipamento permitirá colaborarmos para mitigar o impacto das mudanças climáticas em nossa área, minimizando os prejuízos que eventos extremos podem causar à população e ao espaço em que vivemos. Também possibilitará formar pessoas e desenvolver conhecimento associado a estas mudanças em nossa região”, disse o reitor da Unicamp, Antônio José de Almeida Meirelles.
O Cepagri, que completará 41 anos em novembro de 2024, está instalado junto à Embrapa Agricultura Digital, na Unicamp. A parceria com a Embrapa teve início a partir do trabalho de zoneamento agrícola, concluído em 1996: um trabalho de identificação de áreas adequadas para o plantio de culturas diversas, de acordo com o risco climático observado em séries históricas de dados. Esta ação se transformou em política pública, o que reduziu as perdas por parte dos produtores rurais, que passaram a seguir o zoneamento agrícola.
A produção do banco de dados meteorológicos começou no ano de 1985, com a instalação do sistema de recepção de imagens de satélites. O sistema foi atualizado na década de 1990, mas desde o início permite que seja realizado o cálculo da temperatura das superfícies, além da identificação de incêndios, geadas, estiagem. Outras faculdades da Unicamp participaram do projeto.
Em 2007, o Cepagri participou também, juntamente com a Embrapa Agricultura Digital, da elaboração de um projeto sobre os cenários futuros das mudanças climáticas. O objetivo foi compreender o impacto das mudanças na produção agrícola, nas diversas culturas do Estado de São Paulo, como o café, a cana-de-açúcar, a laranja, etc. Em junho de 2016, o evento meteorológico das micro explosões, que ocorreu em Campinas – e que muitos de nós testemunharam – alterou a forma de realizar as previsões do tempo na região. Campinas, assim como o Brasil como um todo, não tinha histórico de eventos extremos, de danos materiais, e hoje já são diversas áreas e instituições interligadas, em prol de enfrentar os desafios que as mudanças climáticas têm imposto à agricultura e aos centros urbanos.
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