22/04/2024
O Greening, conhecido também como huanglongbing (HLB) ou citrus greening, é uma doença causada pelas bactérias do gênero Candidatus Liberibacter, que representa uma das maiores ameaças à citricultura global, pois podem atingir as variedades cítricas (laranja, limão e mexerica). Desde sua primeira identificação no Brasil, no munícipio de Araraquara, em 2004, agricultores e cientistas têm enfrentado uma batalha contínua para conter seus efeitos devastadores. Quase duas décadas se passaram, porém o desafio persiste, colocando em xeque a liderança do país nesse setor vital.
Disseminada pela população de insetos psilídeos, popularmente conhecido como “cigarrinhas”, a doença, causa danos severos às laranjeiras, comprometendo as estruturas da planta e sua qualidade. Estima-se que quase 40% da produção nacional de laranja seja afetada pela doença, ameaçando a estabilidade do mercado e a saúde das plantações.
Alessandra Alves, pesquisadora do Centro de Citricultura Sylvio Moreira e especialista em Melhoramento e Genética Vegetal do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), comenta: “Um dos grandes problemas dessa doença é a perda dos frutos, pois além da queda prematura, os frutos ficam deformados e sem utilidade para suco ou consumo in natura. O problema pode ser agravado devido ao aumento da população de psilídeos (inseto transmissor da bactéria que causa o Greening), devido a resistência desses as moléculas dos inseticidas hoje disponíveis no mercado. Dessa forma, o risco aumenta, pois, com mais psilídeos, maior será a transmissão para plantas saudáveis.”
Recentemente, dados alarmantes do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) indicaram um aumento de 56% na incidência do Greening entre 2022 e 2023. Esse crescimento levanta preocupações sobre a capacidade do Brasil de manter sua posição dominante no mercado global de laranjas e suco de laranja.
Enfrentar esse desafio requer uma abordagem abrangente e coordenada. Além de investimentos substanciais em pesquisa e desenvolvimento, é fundamental integrar tecnologias inovadoras no manejo da doença. Essa combinação de esforços visa encontrar soluções eficazes e sustentáveis para conter a disseminação e mitigar seus impactos.
No Estado de São Paulo, medidas concretas estão sendo tomadas para enfrentar o problema. Oficializado recentementen através de decreto pelo Governado do Estado, o Comitê Estadual de Combate ao Greening reflete o compromisso em coordenar as ações de controle à doença. Com representantes do governo, produtores e especialistas do setor, o comitê busca desenvolver políticas e diretrizes eficazes para controlar a enfermidade e proteger a citricultura paulista.
Entre as medidas propostas pelo comitê estão a colaboração entre o setor público e as cadeias produtivas, a promoção de práticas e tecnologias de controle e prevenção da doença, e o estabelecimento de uma abordagem integrada e contínua de combate.
“O Comitê Estadual de Combate ao Greening foi criado para que a gente possa trabalhar de forma unida. Assim, simplificamos as ações e agimos em conjunto para combater esse problema que pode afetar de maneira muito séria a nossa economia e o agronegócio paulista”, afirma o secretário de Agricultura e Abastecimento, Guilherme Piai.
Sobre a necessidade de estabelecer parcerias colaborativas, Alessandra Alves, destaca: “O IAC, em parceria com outros institutos, tem trabalhado fortemente em várias frentes para combate ao Greening (ou HLB), que incluem ações de conscientização do setor para controle da doença, através de eventos e palestras (como a Semana da Citricultura), e desenvolvimento de pesquisas, como melhoramento genético para obtenção de variedades mais tolerantes a doença e aplicação de moléculas sustentáveis para manejo em plantas adultas. Atualmente temos em andamento o projeto Centro de Ciência para o Desenvolvimento apoiado pela FAPESP e iniciativa privada (CCD-CROP-IAC) que envolve o programa de melhoramento de porta-enxertos, e obtenção de plantas tolerantes por edição gênica. Ainda temos uma patente do uso do N-acetilcisteina (NAC) na agricultura, que é uma molécula análoga ao aminoácido cisteína, encontrada naturalmente no alho, que já foi testada por três anos no campo em plantas adultas com HLB. Esperamos que em breve essa molécula seja aprovada como um defensivo natural, para combate a bateria e melhoria da planta, sendo mais um componente a ser integrado nas práticas de combate ao HLB e diminuição das perdas de produtividade.”
Essas iniciativas são cruciais para proteger o agronegócio paulista, que desempenha um papel vital na economia regional e nacional, gerando milhares de empregos e impulsionando o desenvolvimento econômico.
Fontes:
Pesquisadora do IAC fala sobre Greening, doença que afeta a produção de laranja – Site da APqC
Greening: A ameaça silenciosa que paira sobre os citros brasileiros – Site da Emdrago
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