26/06/2024
A história do Museu Universitário da PUC Campinas tem início na década de 1950, sob a direção do Professor Alfonso Trujillo Ferrari, que promoveu uma série de expedições científicas e etnográficas pelo Brasil. O objetivo maior era criar o Departamento de Antropologia da universidade, o que ocorreu no ano de 1958, nas salas do andar térreo do Pátio dos Leões, no Campus Central, na Rua Marechal Deodoro.
Em 1963, o Departamento de Antropologia passou a ser dirigido por Desidério Aytai (Budapeste, Hungria, 1905 – Monte Mor, São Paulo, Brasil, 1998), engenheiro e antropólogo húngaro radicado no Brasil, que se tornou um dos maiores nomes no campo da etnografia no país. Desidério recebeu o convite da instituição para ocupar a cadeira de Antropologia do curso de Ciências Sociais, e também a função de organizar e coordenar o Museu Universitário.
No último dia 15 de junho, encerrou-se a exposição “Cartas para Sangradouro”, no edifício da Reitoria, que reuniu uma seleção de cartas, fotos, gravações e artefatos da cultura material dos povos Bororo e Xavante, coletados pelo Professor Desidério durante uma expedição realizada em Sangradouro, no Mato Grosso. A finalidade da exposição evidenciou as contribuições das expedições científicas realizadas pelo professor e sua equipe, resgatando a cultura desses povos e reafirmando o compromisso da PUC Campinas com o desenvolvimento científico na área das humanidades, da antropologia, das ciências sociais.
“A exposição Cartas para Sangradouro lançou luz sobre a produção acadêmica capitaneada pelo Prof. Desidério Aytai, sobre a etnomusicologia, em especial entre os povos Bororo e Xavante, que pode ser considerada um dos mais representativos estudos no assunto ainda hoje, e o riquíssimo acervo deixado por Aytai ao Museu Universitário. Desse modo, a exposição, para além da extroversão do conhecimento produzido por esse pesquisador entre as décadas de 1940 e 1980 (recorte temporal da exposição), visava ainda instigar novas pesquisas sobre esse acervo na contemporaneidade, possibilitando novas leituras e a construção do conhecimento e sua extroversão para a sociedade”, explicou Rodrigo Luiz dos Santos, Curador e Coordenador Geral da exposição e do Museu.
A primeira expedição a Sangradouro (MT), promovida pela então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Campinas, contou com a participação do ex-diretor do Centro de Memória da Unicamp, José Roberto do Amaral Lapa, que narrou a expedição em sua obra “Missão do Sangradouro”, publicado no ano de 1963. No livro, relatou em diário de campo sua experiência e vivência na Missão do Sangradouro, realizada durante o período de 25 de julho a 6 de agosto de 1958, a convite de Alfonso Trujillo Ferrari, na época professor do Departamento de Antropologia e organizador da expedição.
Houve muitas outras expedições, no entanto, sob a tutela do Professor Desidério. Consciente da importância do trabalho que desenvolvia, Desidério costumava arquivar no Museu as cartas que recebia – e as cópias das que escrevia – aos seus correspondentes. A partir desse conjunto documental, é possível identificar os preparativos que antecederam as expedições, que ocorreram quase que anualmente, até meados dos anos 1980, além da possibilidade de mapear os contatos estabelecidos entre os missionários salesianos. O seu conteúdo revela não só os caminhos que as investigações e produções científicas de Desidério foram direcionadas, mas também as relações de afeto que foram construídas.
Iara Salgado, 75 anos, ex-aluna do curso de Ciências Sociais que visitou a exposição, nos relata: “Nunca deixei de aprender com o Professor Desidério, que nas aulas nos apresentava o resultado de suas pesquisas e expedições. Chegamos a acompanhá-lo em Monte Mor, certa vez, e levei essa vivência e esse conhecimento para minhas aulas mais tarde, quando também me tornei professora do ensino básico”.
Análise das Cerâmicas do acervo do Professor Desidério Aytai pelo Sirius (CNPEM)
Atualmente, a equipe do Sirius, pertencente ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em conjunto com pesquisadores da Unicamp (do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – IFCH) e com o Museu da cidade de Campinas, está realizando a análise das cerâmicas coletadas, pertencentes ao acervo do Professor Desidério. É a primeira pesquisa realizada pelo CNPEM na área das Humanidades.
O Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) possui diversas linhas de luz, incluindo a linha Carnaúba, que será utilizada para a análise destas cerâmicas. A utilização da tecnologia de luz síncrotron permitirá uma investigação detalhada da composição dos materiais, ajudando a identificar a origem dos pigmentos e a técnica de manufatura utilizada pelos povos indígenas. O feixe de luz síncrotron, emitidos por aceleradores de partículas são direcionados para os materiais, permitindo uma investigação minuciosa de sua composição. Com essa tecnologia, é possível visualizar a estrutura interna dos materiais em escala micrométrica e nanométrica, identificando elementos químicos e suas distribuições.
O estudo das cerâmicas indígenas é uma iniciativa pioneira que abre novas possibilidades para a aplicação da tecnologia de luz síncrotron em pesquisas de humanidades no LNLS. “O uso de recursos como a Linha de Luz Carnaúba permite que várias análises sejam feitas ao mesmo tempo, otimizando o uso da tecnologia e reduzindo erros espaciais”, explica Flávia Caleffo, paleontóloga do LNLS.
Além de contribuir para o conhecimento histórico, o projeto destaca a importância da arqueologia na valorização da história dos povos indígenas, que muitas vezes são marginalizados nos relatos históricos tradicionais. “À medida que conhecemos os objetos que eles produziam e caracterizamos sua cultura material, podemos lançar luz sobre uma história que foi deixada no escuro por séculos”, ressalta o pesquisador da Unicamp, Felipe Noe da Silva, enfatizando a relevância dessa abordagem na formação de novos historiadores e arqueólogos.
Para saber mais acesse os Links:
https://www.puc-campinas.edu.br/ exposicao-cartas-para- sangradouro-e-aberta -na-puc-campinas/
https://www.unicamp.br/ unicamp/index.php/ ju/683/ sirius-traz-nova-luz- sobre-historia-de- campinas
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