16/07/2024
A Fonoteca Neotropical Jacques Vielliard (FNJV) é um verdadeiro tesouro sonoro, parte integrante do Museu de Diversidade Biológica (MDBio) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Este acervo, iniciado pelo professor e ornitólogo Jacques Marie Edme. Vielliard, destaca-se como uma das maiores coleções de gravações de vocalizações de animais no mundo, abrangendo registros de todos os grupos de vertebrados e alguns invertebrados. Neste artigo, exploramos a história do acervo, a vida de seu fundador e a importância da ornitologia e bioacústica na preservação da biodiversidade.
A História da Fonoteca Neotropical Jacques Vielliard
Fundada em 1978, a FNJV é uma das cinco maiores fonotecas do mundo e a maior da América Latina. O acervo possui mais de 100 mil gravações catalogadas e outras 20 mil em processo de digitalização e tombamento. A maior parte dessas gravações é proveniente do Brasil, mas o acervo também inclui exemplares da América do Norte, Europa, África e Oceania.
A coleção teve início no Laboratório de Bioacústica da UNICAMP, criado pelo professor Jacques Vielliard. Este laboratório foi um dos primeiros centros de pesquisa dedicados ao estudo dos sons dos animais no Brasil, e a fonoteca surgiu como uma extensão natural desse trabalho.
Quem Foi Jacques Marie Edme Vielliard?
Jacques Vielliard nasceu em Paris em 22 de agosto de 1944. Desde a infância, encantou-se pelos cantos das aves, utilizando o estudo desses animais como uma forma de compreender a natureza. Com apenas 18 anos, Vielliard participou de sua primeira expedição internacional para fazer um inventário da fauna de Coto Doñana, na Espanha, contribuindo para a criação do primeiro parque nacional espanhol.
Após obter seu mestrado e doutorado em Ecologia pela École Normale Supérieure, Vielliard foi convidado a criar um Laboratório de Bioacústica na UNICAMP em 1978. Este laboratório tornou-se um centro de pesquisa de ponta e um dos maiores arquivos de sons animais do mundo. Vielliard dedicou sua vida ao estudo da bioacústica e à preservação das espécies. Ele descreveu novas espécies para a ciência, como a pequena coruja Caburé-da-Amazônia (Glaucidium hardyi Vielliard, 1990) e o Lenheiro-da-Serra-do-Cipó (Asthenes luizae Vielliard, 1990). Seu trabalho teve um impacto significativo na ornitologia, a ciência que estuda as aves, e na bioacústica, que analisa os sons dos animais.
Jacques Vielliard faleceu em 2010, enquanto colaborava na criação do Arquivo Sonoro da Amazônia (ASA) na Universidade Federal do Pará (UFPA). Após sua morte, a coleção continuou a crescer sob a curadoria do professor Luís Felipe Toledo, com o auxílio de alunos e bolsistas.
O Laboratório de Bioacústica da UNICAMP
O Laboratório de Bioacústica da UNICAMP é um dos principais centros de pesquisa na área de bioacústica. Fundado por Vielliard, o laboratório desenvolve metodologias inovadoras para gravar e analisar os sons dos animais e quantificar suas comunidades. Este trabalho é essencial para a preservação da biodiversidade, pois permite entender melhor os comportamentos e interações dos animais.
O laboratório também é responsável por digitalizar o acervo da FNJV e disponibilizá-lo online, permitindo o acesso aos dados da coleção sonora por pesquisadores e o público em geral. Este esforço de digitalização é crucial para preservar o patrimônio sonoro e garantir que as futuras gerações possam continuar a estudar e apreciar a diversidade acústica dos animais.
Importância da Ornitologia e Bioacústica
A ornitologia é a ciência que estuda as aves, incluindo seu comportamento, ecologia e conservação. Este campo de estudo é fundamental para entender a diversidade das aves e seu papel nos ecossistemas.
A bioacústica, por sua vez, é uma disciplina que analisa os sons produzidos pelos animais, como os cantos das aves e os ruídos dos insetos. Esta ciência emergiu nos anos 1960 e tem crescido em importância, oferecendo insights valiosos sobre a comunicação animal e a ecologia comportamental. Os estudos bioacústicos são essenciais para a conservação da biodiversidade, pois permitem identificar espécies, monitorar populações e entender as interações entre os animais e seu ambiente. A FNJV, com seu vasto acervo de gravações, é uma ferramenta inestimável para pesquisadores em todo o mundo.
O Museu de Diversidade Biológica (MDBio)
O Museu de Diversidade Biológica é uma instituição dedicada ao estudo e à conservação da biodiversidade, dividido em duas áreas principais: Zoologia e Botânica. A divisão de Zoologia abrange subdisciplinas como Entomologia, Ornitologia, Herpetologia, Mastozoologia e Ictiologia, focando no estudo de insetos, aves, répteis, anfíbios, mamíferos e peixes, respectivamente. Esta seção mantém coleções de espécimes que são usadas para pesquisa e educação. Já a divisão de Botânica inclui subdisciplinas como Fitogeografia, Taxonomia Vegetal, Ecologia Vegetal, Botânica Econômica e Paleobotânica, dedicando-se à classificação, distribuição, ecologia e evolução das plantas, além de manter herbários para fins científicos e educacionais.
O MDBio tem como objetivos principais a realização de pesquisas científicas, a promoção da educação sobre biodiversidade, a conservação de espécies e ecossistemas, e a manutenção de coleções biológicas. A instituição realiza estudos e publicações, promove exposições e programas educacionais, e colabora em projetos de conservação, fornecendo dados e insights que orientam políticas de conservação e práticas sustentáveis.
Conclusão
A Fonoteca Neotropical Jacques Vielliard é um exemplo brilhante de como a paixão e dedicação de um indivíduo podem criar um legado duradouro para a ciência e a conservação. O trabalho de Jacques Vielliard e sua equipe na UNICAMP continua a inspirar e capacitar pesquisadores a explorar e preservar a biodiversidade sonora do nosso planeta. Ao manter viva a memória e o legado de Vielliard, a FNJV não apenas preserva a história, mas também promove a educação e a conscientização sobre a importância da bioacústica e da ornitologia para o futuro.
Links (Leia e ouça!):
https://www2.ib.unicamp.br/fnjv/
https://www.abc.org.br/membro/ jacques-marie-edme-vielliard/
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