08/11/2024
No dia 4 de novembro, no Centro de Convenções da Unicamp, aconteceu o Fórum Especial “Museus de Ciência: a convergência entre divulgação científica e a prática extensionista”. O principal objetivo do evento consistiu em discutir a relação existente entre as universidades e a sociedade, principalmente através da divulgação científica realizada por seus museus universitários. Uma relação complexa, tensa, que se dá num ambiente de disputa, e envolve interesses políticos e econômicos, que nem sempre são representados pelos mesmos agentes sociais.
As conquistas científicas impactaram a sociedade, de inúmeras formas, nas últimas décadas. O Fórum buscou discutir de que maneira a universidade, de forma acessível e legítima, aproxima a população dos conceitos científicos, esclarecendo e argumentando sobre os propósitos, alcances e conceitos da ciência. O organizador do Fórum foi o Museu Exploratório de Ciências da Unicamp. Os representantes das instituições, linha de frente no Brasil no trabalho de divulgação científica, falaram sobre suas ações, inclusive sobre o combate ao negacionismo: Instituto Butantan, Museu da Vida da Fiocruz, Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa e Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Na abertura do evento, Claudecir Biazoli – Coordenador de atividades do Museu Exploratório de Ciências da Unicamp, e Paola Assunção Carraro – Mediadora de atividades do museu, contaram sobre as especificidades do trabalho desse tipo de museu, as inúmeras visitas recebidas recentemente devido à um programa com o governo do Estado, sobre as novas formas de divulgação das atividades da instituição, transformadas a partir da inteiração com o público. De acordo com os pesquisadores, são os visitantes, principalmente os alunos da educação básica, os principais responsáveis por tudo que se conta hoje no museu e de que forma é contado. Os questionamentos e a percepção dos alunos, trouxe renovação ao trabalho do museu e de seus pesquisadores.
Na página de apresentação do Museu Exploratório encontramos a seguinte definição: “O Museu Exploratório de Ciências da Unicamp é uma entidade educativa, de difusão e de disseminação científica. Nossa missão é estimular a curiosidade sobre o mundo e seus fenômenos, promovendo uma postura autônoma e criativa na busca do conhecimento científico. O Museu possui um espaço de exploração interativa permanente, organiza exposições para promover participação ativa dos visitantes e promove oficinas de cunho educacional envolvendo exploração e resolução de problemas. Essas oficinas apresentam o método científico na prática, incentivando os participantes a observarem o mundo ao seu redor, a apropriar-se do conhecimento e refletir sobre o mesmo”.
A saúde de uma democracia depende de uma cidadania educada e de sua capacidade de separar informações confiáveis das fake news. Lauro Baldini, Docente do Instituto de Estudos da linguagem (IEL-Unicamp), falou sobre a pós-verdade, o negacionismo e a dificuldade de se debater ciência no Brasil, nos últimos anos. Para o pesquisador, o negacionismo produz a disseminação da mentira como aparência de revelação da verdade, distorcendo os fatos. Há, atualmente, um esforço enorme da comunidade científica em ampliar o diálogo com a sociedade, principalmente via redes sociais, na tentativa de combater a desinformação, divulgando e discutindo tudo o que já se produziu em ciência, confirmando a relevância da preservação da memória científica do país.
Para o representante do Museu da Vida da Fiocruz, Luís Amorim, Pesquisador e Coordenador-adjunto do Mestrado em Divulgação da Ciência da Fiocruz, não basta formar pessoas, explicadores, e relatar o que acontece no museu, como estão dispostos e arquivados os seus objetos. É necessário interagir com a comunidade onde está inserido o espaço, ouvir a sociedade, saber o que ela espera do museu. Revisitar o museu é muito importante, pois quando a pessoa visita e volta novamente, de certa forma ela está estudando o conteúdo, se inteirando, e na próxima etapa esse visitante vai propor soluções, tanto para o museu quanto para a sociedade. E aí será possível dimensionar se a divulgação está sendo eficiente.
Luís Amorim também trouxe ao conhecimento do público, o Guia de Centros e Museus de Ciências da América Latina e do Caribe 2023, elaborado pela Fiocuz (disponível online), sobre 448 museus de ciências do Brasil, México, Bolívia, Chile, Argentina, num total de 18 países, que traz um resumo sobre os objetivos de cada instituição, endereço, e endereços nas redes sociais (Facebook, Instagram, Sites). De acordo com o pesquisador, na publicação os museus de ciência foram considerados de forma ampla, a saber: são museus de história natural, museus de tecnologia, museus de antropologia, museus de arqueologia, museus de etnografia, museus históricos, centros interativos, jardins botânicos, aquários, planetários, zoológicos, centros de educação ambiental, parques ambientais e outros.
Marta Lourenço, Diretora do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, apresentou o MUHNAC, que faz parte de uma Unidade Especializada dos Serviços Centrais da Universidade de Lisboa designada ‘Museus da Universidade de Lisboa/Instituto de Investigação Científica Tropical’. Essa unidade é responsável pela gestão, preservação e acesso público sobre três importantes polos patrimoniais de natureza científica em Lisboa: a sede, no Príncipe Real, do MUHNAC e Jardim Botânico de Lisboa; o polo de Belém – Jardim Botânico Tropical; o polo da Ajuda – Observatório Astronômico de Lisboa. A missão do Museu Universitário consiste na promoção e divulgação da ciência, considerando também a curiosidade e a compreensão pública sobre o tema, aproximando desta forma o mundo acadêmico da sociedade. Essa missão é atingida através da valorização das coleções, do património universitário, da investigação, exposições, conferências e outras iniciativas de carácter científico, educativo, cultural e de lazer.
O Museu faz parte da Rede Portuguesa de Museus desde 2002. É membro institucional da Associação Portuguesa de Jardins Históricos, da Botanic Gardens Conservation International (BGCI) e da Universeum — European University Heritage Network. Integra ainda as infra-estruturas científicas nacionais PRISC (Portuguese Research Infrastructure of Scientific Collections) e PORBIOTA (Portuguese E-Infrastructure for Information and Research on Biodiversity) e, a nível europeu, a DiSSCo (Distributed System of Scientific Collections).
Adriana Badaró de Carvalho – Líder do Observatório de Ciência, Tecnologia e Inovação (OCTI/CGEE) – Brasília, apresentou a pesquisa “Percepção Pública da Ciência e o Papel dos Museus na Popularização e Inclusão Científica”. De acordo com o resumo do trabalho, os pesquisadores buscaram conhecer “como a sociedade pensa e consome temas relacionados à ciência e tecnologia (C&T), que é fator de grande importância para pesquisadores, educadores, comunicadores, jornalistas e gestores, envolvidos com o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas. Isto porque a ciência e a tecnologia fazem parte de indispensáveis debates políticos e sociais, como mecanismos que auxiliam e aceleram o desenvolvimento do País”.
Na pesquisa (link abaixo), foram considerados diversos temas: hábitos culturais e acesso à informação sobre C&T, conhecimento sobre a ciência brasileira, imagem do cientista, desinformação e fake news, percepção de riscos, mudanças climáticas, noções sobre ciência, crenças e evidências científicas, etc. Para a pesquisadora “o cenário que emerge dos dados da presente pesquisa é extremamente relevante, surpreendente em alguns aspectos, com notável impacto potencial para auxiliar políticas públicas, campanhas de alfabetização científica e conscientização, bem como formação de profissionais para educação em ciência, jornalismo de ciências, meio ambiente e saúde, divulgação científica”.
O evento teve como moderador o Prof. Dr. Marcelo Knobel, docente do IFGW-Unicamp, especialista em divulgação científica, ex-reitor da Unicamp, entre os anos de 2017-2021. Ainda, a Pró Reitoria de Extensão, Esporte e Cultura da Unicamp, participou da organização e promoção do Fórum.
https:// www.museudavida.fiocruz.br/ index.php/publicacoes/livros/2101-tcc-78
Patrocínio
Realização