No ano de 1959, foi criada em São Paulo a Comissão Técnica de Tecnologia Agrícola, na Secretaria de Agricultura. Após o término da segunda Grande Guerra, e com a expansão do mercado consumidor mundial, diversos organismos internacionais estimularam a criação de Institutos de Pesquisa na América Latina voltados para a pesquisa e processamento de alimentos. Em 30 de agosto de 1963, foi instituído o Centro Tropical de Pesquisas e Tecnologia de Alimentos-CTPTA, anexo ao Instituto Agronômico de Campinas-IAC, através do Decreto nº 42.424.
O principal objetivo com a criação da nova Instituição instalada no Centro Experimental “Theodureto de Camargo”, situado à Fazenda Santa Elisa pertencente ao IAC, era dar suporte para a então nascente Indústria Alimentícia brasileira, a partir da consolidação do país em outro setor, o da Agricultura. Com o crescimento das cidades e o aumento da população urbana, além da maior produção de alimentos, era necessário que houvesse qualidade nesses produtos, o que exigiu o desenvolvimento de técnicas eficientes de armazenamento, processamento, acondicionamento e transporte. O maior desafio era ampliar a vida útil dos produtos altamente perecíveis.
O acompanhamento das atividades do CTPTA ficaria a cargo de uma equipe formada por membros do Departamento de Agricultura da Secretaria de Agricultura, do Conselho Nacional de Pesquisas do Governo Federal (atual CNPQ) e da Divisão de Solos, Mecânica Agrícola e Tecnologia do IAC. Em 14 de julho de 1969, o CTPTA passou a se chamar Instituto de Tecnologia de Alimentos-ITAL.
Para a implantação dos Centros de Pesquisa do ITAL, o convênio com a FAO (Food and Agriculture Organization) permitiu o treinamento de cerca de 70 pessoas, entre 1964 e 1973. Ainda em relação à formação de capacidade científica para atuar na área, o programa viabilizou a vinda de 17 especialistas e 19 consultores de 12 países diferentes (Austrália, Canadá, Chile, Dinamarca, Inglaterra, França, Israel, Holanda, Nova Zelândia, Suécia, Estados Unidos e Alemanha), onde a área de Tecnologia de Alimentos já era mais avançada.[1]
Com o objetivo de fomentar o desenvolvimento tecnológico na área de Alimentos surgiu o plano de criação da Faculdade de Tecnologia de Alimentos-FTA da UNICAMP, pois era necessário formar profissionais especializados para atender às demandas do novo setor que surgia. Com projeto do engenheiro agrônomo André Tosello, o Conselho Estadual de Educação aprova, em 19 de dezembro de 1966, a Resolução nº 46/66 e, assim, autoriza a instalação da FTA, que viria a formar o núcleo inicial da UNICAMP, juntamente com os Institutos de Biologia, Matemática, Física e Química, e as Faculdades de Engenharia, Ciências e Enfermagem.
O ITAL foi responsável por implantar na década de 1980 a primeira planta piloto para processamento do suco de laranja no Brasil. Em parceria com a empresa Tetrapak, desenvolveu a tecnologia de processamento do suco e acondicionamento, aumentando a vida de prateleira do produto. Para evitar o desperdício de alimentos ainda desenvolveu um método de separação mecânica para o aproveitamento integral da carne de frango: o que antes era lixo foi transformado em matéria-prima de alta qualidade para empanados de frango e ingredientes de mortadela, linguiça, salame e outros alimentos do gênero.
O ITAL chega a 2023 composto por seis Centros Especializados, na sua sede no bairro Jardim Chapadão, em Campinas: Centro de Tecnologia de Carnes-CTC; Centro de Tecnologia de Cereais e Chocolates-CEREAL CHOCOTEC; Centro de Tecnologia de Frutas e Hortaliças-FRUTHOTEC; Centro de Tecnologia de Laticínios e Bactérias Lácticas-TECNOLAT; Centro de Ciência e Qualidade de Alimentos-CCQA; e, Centro de Tecnologia de Embalagem-CETEA. Também conta com um Centro e uma Plataforma de Inovação Tecnológica-PITec. Desde 2008, o Instituto elabora e divulga gratuitamente estudos de tendências direcionadas ao mercado nacional, auxiliando as empresas a agregar valor e a aumentar a qualidade e a segurança dos produtos fornecidos. Como exemplo, pode-se citar o estudo Brasil Food Trends 2020, lançado em 2010, em parceria com a FIESP para criação da Plataforma de Inovação Tecnológica-PITec.
Uma inovação importante atribuída ao ITAL é a invenção das embalagens plásticas flexíveis esterilizáveis (retortable pouches), feitas para acondicionar alimentos dispensando a refrigeração. Em 2020, através de um acordo de cooperação é instalada a primeira startup dentro do Instituto, a BIOinFOOD, que tem como objetivo selecionar e desenvolver microrganismos e assim otimizar processos fermentativos para a incorporação de características nutricionais, funcionais e tecnológicas a alimentos e bebidas.
Desde 2015, o ITAL oferece o curso de Mestrado em Ciências e Tecnologia dos Alimentos. Também, como resultado da parceria entre o ITAL, a Faculdade de Engenharia de Alimentos-FEA da UNICAMP, a Escola de Engenharia de Lorena-EEL/USP) e o Instituto de Física de São Carlos-IFSC/USP), são desenvolvidos ingredientes saudáveis a partir de matérias-primas nacionais – dado o enorme potencial da flora brasileira – por meio da Plataforma Biotecnológica Integrada de Ingredientes Saudáveis-PBIS, criada em 2020.
Para o ITAL, a parceria com as Universidades é de suma importância para continuar avançando em sua trajetória, pois nessas se produz conhecimento, preparam-se profissionais para a contínua investigação e os Institutos de Pesquisa transformam a ciência elaborada em algo diretamente aplicável à vida das pessoas e em prol das melhorias pleiteadas pela sociedade. Juntos, Universidades e Institutos potencializam suas capacidades de formar quadros técnicos, de desenvolver pesquisas e de formular políticas públicas para a área, consolidando eixos efetivos de ação a apontar para o futuro.
[1] Ciência, Tecnologia e Inovação a Serviço da Sociedade e da Indústria Brasileira de Alimentos: Ital 50 anos. Coord. Luís Fernando Ceribelli Madi. Campinas: ITAL, 2013. 251p., p. 18.
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