16 nov Road Show Tecnológico aborda ações que vão do combate ao desperdício de alimentos à produção sustentável
O Road Show Tecnológico, atividade realizada durante a 9ª edição do Inova Trade Show, foi encerrado com a participação de empresas e institutos de pesquisa que trocaram experiências sobre a área de produção de alimentos.
Ao todo, seis iniciativas apresentadas trataram de tecnologias voltadas à produção com menor uso de solo, escalonamento de produtos biorrenováveis, microencapsulação alimentar e até corante azul natural. Também foi compartilhada inciativa que faz um mapeamento para evitar processos que causam desperdício de alimentos e o representante de uma cervejaria buscou soluções para gargalos atuais, visando melhoria de qualidade e maior segurança nessa indústria.
O Road Show Tecnológico, realizado em parceria com a Alcance Innovation, teve como objetivo conectar instituições de ensino e pesquisa e empresas para levar ao mercado soluções inovadoras. A programação contou com uma agenda para apresentação de projetos nas área de energia, saúde e alimentos e um espaço disponibilizado para networking. Estima-se que o evento gerou mais de 100 conexões futuras. (leia mais aqui)
O Inova Trade Show foi realizado no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) nos dias 3 e 4 de novembro, pela Fundação Fórum Campinas Inovadora (FFCi). Confira os projetos apresentados:
Bayer
Líder em inovação para P&D Latam da Bayer, Renato Luzzardi comentou sobre o esforço relativamente recente da gigante multinacional em investir especificamente em ações de inovação, a partir de 2015. Ele ressalta a importância do incentivo a soluções na área tomando como base uma suposta vantagem global da empresa, classificada como uma das BIG 4 do mercado de conservação de sementes do agro. “São altos custos, exigências cada vez maiores das autoridades reguladoras. Poucas empresas têm capacidade de investir tanto em um prazo tão longo.”
Segundo Luzzardi, após a junção com a Monsanto, a Bayer criou uma organização de inovação aberta para incentivo à pesquisa com parceiros. Com isso, passou a receber propostas de empresas que poderão convergir com seus negócios. “Temos um time que busca oportunidades e soluções quando recebemos demandas internas, um para contratos e um dedicado à gestão de parcerias.” Na internet, a empresa mantém uma plataforma de orientação a novos projetos chamada Bayer Innovation Flow.
Entre as parcerias estabelecidas, a maioria é com institutos universitários, entre eles da USP e Unicamp. Uma das mais importantes é com a Embrapa para manejo de pragas e custos ligada ao “carbono do solo”, trabalhando para o agricultor gerar valor com mais tecnologia e uso menor do terreno, poupando o ambiente. Luzzardi ressaltou que mesmo soluções não aproveitáveis pela Bayer podem contribuir com o segmento e, portanto, ganhará espaços em marketplaces voltados a clientes da multinacional.
CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais)
Assim como no ciclo de apresentações na área de energia, o CNPEM também compartilhou experiências no segmento de alimentação, com a participação da gestora de projetos de inovação aberta Juciane de Paula André. Como outros representantes do centro, ela ressaltou que o CNPM é uma organização social, aberta a pesquisadores externos, com programas agroambientais de nutrição animal e vegetal; tecnologias quânticas e materiais supercondutores, entre outros.
“Na biotecnologia industrial, temos pesquisas de plataformas microbianas para produtos biorrenováveis. São projetos com escalonamento, modelagens e simulações, com foco em sustentabilidade”, informou.
Segundo ela, há tecnologias que despertam interesse de empresas que acabam sendo adaptadas às necessidades delas por meio do apoio fornecido pelo CNPEM. Uma das cooperações, inclusive, fez nascer uma startup que licenciou novas técnicas de produção de cerveja e extrato de guaraná.
Cervejaria Lamas
Davi Figueira, físico graduado pela Unicamp e diretor da cervejaria Lamas Brew Shop, aproveitou a oportunidade no Road Show Tecnológico para, ao invés de apresentar soluções, discutir gargalos e problemas frequentes enfrentados pelo seu segmento. Dentro do Grupo Lamas, ele criou a Cervejaria Cogumelo, uma incubadora de novas marcas de cerveja. “Hoje a gente não só fabrica cerveja como encaminha novas marcas para o mercado. Até grandes grupos usam nossos laboratórios.”
Um dos entraves, para os qual Figueira espera que o ambiente de inovação traga soluções, é o controle microbiológico do produto. Segundo ele, os processos mais acessíveis desse controle duram dez dias para finalizar as análises de patógenos, quando o ideal seriam processos de baixo custo que permitissem testagem em tempo real.
Outro problema, segundo ele, é a pasteurização, que hoje não fornece dados imediatos sobre a temperatura do cozimento. A falta de sistemas de integração de todos os processos de produção: ou seja, fiscalização, produção, fermentação e outras etapas são monitoradas separadamente, o que poderia ser otimizado com tecnologia.
Ital
Izabela Alvim, pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) apresentou as pesquisas que desenvolve em microencapsulação de produtos alimentícios no Centro de Tecnologia de Cereais e Chocolates da instituição. O trabalho ocorre para auxílio a empresas interessadas em lançar novos produtos e também outros centros de pesquisa. “É uma frente que vem para agregar saúde a alguns alimentos. O ômega 3, óleo de peixe, por exemplo, é difícil de colocar em sucos, chocolates, pois sempre há um resíduo no sabor. Com a microencapsulação, pode ser agregada”, revelou.
A técnica garante também alternativas como liberação controlada – com maior durabilidade – de substâncias líquidas em gomas de mascar. Um dos cases de sucesso foi o desenvolvimento de cristais encapsulados de gordura em biscoitos. “Um aluno uma vez quis encapsular frutas, achou o sabor sem graça e teve a ideia de encapsular um subproduto, que é a goiabada. Testamos em bolo, pão de queijo”, contou.
Parte dos estudos já captou investimentos da Fapesp e outros órgãos de fomento, mas a linha busca parcerias e recebe demandas de empresas privadas. Hoje o laboratório tem cinco processos em curso de microencapsulação, com microestruturas inspiradas nas células humanas.
All4Food
A All4Food, uma rede que reúne pesquisadores e alunos das maiores universidades e centros de pesquisa do País, foi representada pela doutora em gestão e tecnologia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Ana Beatriz Moraes. No Road Show Tecnológico, o grupo divulgou uma iniciativa inovadora de mapeamento de ações de combate às perdas e desperdício de alimentos no Brasil. Interessados em contribuir podem acessar o site do desafioall4food, com espaço para triagem e inclusão de novas ações.
“É um volume altíssimo, não temos ideia de quanto essas perdas levam à falta de comida na mesa de muitos, além de ser um custo para o País que a gente também não consegue mensurar. Então montamos essa agenda positiva, de buscar iniciativas para evitar esse desperdício junto a pesquisadores e alunos”, afirma. Segundo Ana, a ideia surgiu da tese de uma aluna da Universidade de Brasília, que tentava compreender em quais etapas da cadeia da produção e abastecimento ocorriam perdas.
Com base nessa análise de dados feita pela empresa, surgem soluções de produção mais eficiente, também de armazenamento e transporte. Uma delas foi uma ação da Embrapa para reaproveitamento de abacates em más condições para produzir azeite; outra de exportação de escamas de tilápia por uma empresa e ainda o “Um bom App”, aplicativo interessado em conectar empresas com alimentos excedentes e compradores.
Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp
As engenheiras de alimentos Monique Martins Strieder e Maria Isabel Landim Neves apresentaram o corante azul natural, a base de jenipapo, uma tecnologia desenvolvida durante na Unicamp. A solução tem grande potencial para aplicação na indústria de alimentos.
Segundo Monique, o mercado de produtos azuis é uma tendência, seja para idosos que precisam diferenciar diferentes remédios ao longo do dia, para cosméticos ou para crianças pela sua coloração atrativa. No entanto, há hoje uma dificuldade de obter a cor azul de forma natural e, por isso, utiliza-se um produto artificial com possibilidade de causar alergia e outros males.
A cor obtida no corante natural vem de um composto do jenipapo, que combinado a produtos da cadeia alimentícia produz o aspecto azul, um corante estável e natural que pode ser aplicado em alimentos como muffins, chantilly e bebidas.
Sobre o Inova Trade Show
O Inova Trade Show foi realizado nos dias 3 e 4 de novembro, no Instituto Agronômico de Campinas, pela Fundação Fórum Campinas Inovadora (FFCi). O objetivo é promover oportunidades de negócios e networking, apresentar o potencial tecnológico e as novas tendências para o ecossistema de inovação e empreendedorismo de todo o país.
Tem como parceiros: Unicamp, Agência de Inovação Inova Unicamp, PUC-Campinas, Mescla PUC-Campinas, Conexão.f da Fundepag, Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação de Campinas, Fundag, CATI, Apta, Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Eldorado, Alcance Innovation Consulting, Vilage Marcas e Patentes, Velis, Coalizão pelo Impacto e Campinas Tech. Tem apoio de Ciesp Campinas, Cepetro, Softex, Associação Comercial e Industrial de Campinas (ACIC), Share People Hub, Sebrae, Anbiotec Brasil, CPQD, Open Innovation Brasil, PDI Soluções Empresariais, Band e Campinas.com.
SOBRE A FUNDAÇÃO FÓRUM CAMPINAS INOVADORA
A Fundação Fórum Campinas inovadora (FFCi) é uma entidade que reúne todas as Instituições de Ciência e Tecnologia de maior relevância da região de Campinas, além das principais associações empresariais e órgãos governamentais, que têm atuação ou influência direta no ecossistema de inovação da região. A FFCi tem como principal objetivo promover e ampliar a utilização da Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I), visando contribuir para um significativo aumento da competitividade e o fortalecimento do desenvolvimento socioeconômico regional e nacional.
Texto: Claudio Liza
Fotos: Pedro Amatuzzi
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